sexta-feira, 8 de julho de 2011

“Nas asas da história do Brasil”

Um pouco de história não faz mal a ninguém, e chega ser romântico lembrar dos bons tempos quando se voava com paixão e amor a profissão de aeronauta, mesmo com as limitações de segurança na época, onde acidentes aéreos eram frequentes. Lembro-me ainda criança, no início dos anos 60, quando morei na travessa 7 de Setembro, próximo a hoje avenida Bartolomeu de Gusmão, que quando chegavam os aviões da Panair do Brasil (filial da Panamericana Air, no Brasil), eu e meus irmãos corríamos para as proximidades da pista de pouso do antigo aeroporto, hoje bairro do Aeroporto Velho e Jardim Santarém.
Ao transpormos as cercas, embrenhávamos na vegetação e areões do entorno do aeroporto existente na época e pegávamos pratinhos e copinhos descartáveis de papelão e talheres como; facas e garfos de plásticos com a logomarca da Panair do Brasil (um globo com uma asa), e levávamos para brincarmos com esses utensílios como se fossem troféus. Ficávamos escondidos no mato próximo ao "campo de aviação" para vermos os aviões pousarem e decolarem, aquilo para nós era uma aventura e tanto e alimentávamos o sonho impossível de um dia sermos pilotos, que idealizávamos como heróis do ar, pois pilotavam aquelas máquinas no braço, sem nenhum recurso tecnológico. Hoje tenho pavor de aviões.
Mas o tema deste artigo é lembrar a bela história da Panair do Brasil, rica de detalhes ignorados pelas novas gerações, com citações esclarecedoras das atividades da empresa que ainda hoje tem o seu "fã clube", a chamada "família Panair", cujos membros se confraternizam uma vez por ano para lembrar, com saudade dos personagens e acontecimentos daqueles "good old times". Mas uma pergunta continua no ar: Porque a Panair com controle acionário do grupo Simonsen/Rocha Miranda, uma promissora companhia aérea e a mais importante do Brasil da época, acabou? Consta em arquivo, uma sequência de acidentes que resultaram em duros golpes na dinâmica administrativa da empresa, sem explicação dessa crise surda, mas deixando entender que a decisão das autoridades aeronáuticas de interromper abruptamente as atividades da empresa poderia ser consequência desses desastres. Na realidade os acidentes aéreos foram apenas uma das causas. Consta nos registros que os aviões Constellation "apresentavam sinais de cansaço" tendo um deles pousado de barriga no Aeroporto do Galeão, um DC-8 da empresa, no mesmo aeroporto, não conseguiu decolar e após ultrapassar a cabeceira da pista caiu no mar, provocando mortes entre seus nove tripulantes e 92 passageiros.
E ainda naquele mesmo fatídico 1962, outro avião Constellation caiu em Manaus, sem deixar sobreviventes e em Recife, meses depois, um jato Caravelle foi avariado e causou ferimentos aos passageiros, tentando evitar a colisão com outro avião. Mas uma decisão do Governo Federal (Marechal Castelo Branco), cassando a concessão da Panair para efetuar transportes aéreos no Brasil e no exterior chegou em 10/02/1965.
Sem dúvida os acidentes ocorridos tiveram seu peso, mas evidentemente havia algo mais que preocupava as autoridades. Comenta-se que a Panair estava endividada e não apoiou o Governo Militar. Então foi decisiva a maneira drástica que o governo escolheu para notificar a empresa e suspender de imediato suas atividades. A ordem chegou à Panair por telegrama, poucas horas antes da decolagem de uma de suas aeronaves para a Europa, que nessa mesma noite foi entregue a uma tripulação da Varig, que já estava preparada para essa viagem em segredo, que a levou ao seu destino no exterior.
Foi decidido então, que as rotas européias seriam operadas pela Varig e as domésticas pela Cruzeiro do Sul, que 10 anos depois foi encampada pela Varig.
Os santarenos acima dos 50 anos devem lembrar-se dos saudosos Constellation, dos DC-3, DC-6 e os Catalinas que chamávamos de "pata-choca", os pioneiros a pousarem nos rios amazônicos e era atração em frente à cidade próximo ao Mercado Municipal, aonde a tripulação e passageiros vinham de catraia (canoas de faias) semelhante às de Alter do Chão, hoje.
Esses aviões contribuíram muito com o Correio Aéreo Nacional – CAN, e os primeiros contatos com indígenas na região. Bons tempos que, mesmo tendo a concorrência do Lóide Aéreo Nacional, que operava navios cargueiros e aviões Curtiss C-46 Commando. Mas a Panair do Brasil, apesar dos pesares, era uma empresa amada orgulhosamente pelos seus funcionários e simpática aos que utilizavam a aviação da época. Foi a primeira a fazer vôos internacionais e representar o Brasil no exterior.

Davi Marinho

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